Janeirei

     


     Soprava um sudoeste de janeiro quando rochas, entulhos, tocos de árvores e bichos e pessoas caíram no mar. A montanha tinha se partido em tantos pedaços que uma cidade submersa poderia ser erguida dentro da agua. Porém, uma das pedras que vivia incrustada bem no coração da montanha caia em outra cadencia. Talvez por ser mais leve ou ter se desprendido depois. Mas ela fez o que julgou importante e em vez de afundar, boiou. Como fazem os surfistas que se aproveitam da correnteza, ou os pássaros que planam no ar. Parecia que sentia um alivio em não estar mais sob o Sol forte ou imóvel a mercê das gotas de chuva. E por fim, o mais impressionante em sua paleolítica vida, conseguia se mexer. Tantos anos grudada, tantos anos fitando o mundo desde cima. Agora, olhos encharcados de água salgada. Naquele dia aquela pedra foi feliz. Ao encontro dos grãos de areia que ainda não endureceram, ao encontro da casa que já foi sua um dia. 

Bianca Smanio.

Feliz 2025.

Titulo da pintura: Okre
acrílica, bastão a óleo, nanquim
Criado por uma humana 

  
 



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